“A agricultura hoje é outro mundo.” E é outro mundo também em Portugal. Distantes estão os tempos da Família Prudêncio, criada pelo Ministério da Agricultura, no início dos anos 70 do século passado, quando a televisão ainda era a preto e branco. “Os conselhos que davam nessa época hoje seriam considerados crimes ambientais. Isto mostra o que o setor evoluiu. Os políticos e os consumidores, por vezes, não têm noção disso”, recorda Luís Mira.
Mas não havendo uma Família Prudêncio do século XXI, também não se sabe que agora faz-se produção integrada em pomares de maçãs e pêras. Ou seja, só se aplica um determinado produto nas árvores se não houver outra opção, faz-se contagem de insetos, aplicam-se técnicas para conter a reprodução, lançam-se insetos para comerem outros... "Isto não é ficção científica. Todos os que produzem para o mercado o fazem”, afiança o secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal.
Por isso no entender de Luís Mira a agricultura sofre de um problema de imagem. “Há 40 anos quem queria ser cozinheiro? Nem aparecia na sala. Atualmente a atividade tornou-se limpa, com luz, com amor e os chefes são figuras públicas”, exemplifica, para dizer que a agricultura tem de seguir este exemplo.
Ninguém quer ser tratorista, mas se for um operador digital de máquinas rurais se calhar a apetência já é outra. “Há uma perceção errada do que é a atividade agrícola e da importância que ela tem para a sociedade,” Outro ponto que salienta é a questão da formação: “Qual é a universidade que sabe de vinho? Quero colocar um novo olival, qual é a universidade que sabe dar informação técnica sobre isso? Isto acontece porque somos um país desorganizado e porque as universidades querem perceber de tudo em vez de se especializarem.”
Revela ainda que Portugal não tem falta de água, mas tem um problema de gestão da água e termina elogiando o setor: “Temos os melhores vinhos do mundo, o melhor concentrado de tomate do mundo, cortiça, frutas e hortícolas incríveis. Temos 320 mil hectares de olival conseguidos através da tecnologia, ‘sem intervenção política’. No litoral alentejano podemos produzir framboesas 52 semanas por ano. Isso não existe em muitas partes do mundo."
E volta às comparações. "A onda da Nazaré também estava lá, mas só quando um americano a viu é que passou a ser a melhor onda do mundo, infelizmente temos casos desses na agricultura.”
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